The Wall (1979) Wish you were here (1975)
(Pink Floyd,Another Brick in the all)
Pra início de conversa, cumpre delinear a emoção de escrever algo sobre uma das maiores bandas de todos os tempos. Além de instrumentalmente perfeito, o Pink Floyd sempre foi uma banda de letras impecáveis. Enquanto o rock tradicional falava de sexo, drogas e problemas pessoais, o Floyd foi além...Falou disso também, é claro, mas se ateve mais aos problemas existenciais do mundo, da vida...e de forma brilhante!
Com essa preocupação existencial, letras filosofais e por conter a sonoridade do universo (da música erudita à folclórica, passando pelo jazz e, evidentemente, pelo próprio rock )a banda foi tida como uma das mais “cults” da história da música.
Em 1979, o Floyd já era uma banda consagrada. “The dark side of the moon”, “Animals” e “Wish you were here” já eram clássicos absolutos da música. O álbum “Wish you were here”, de 1975 é um aprofundamento dos temas do clássico-mor “dark side”. O tema do disco é ausência e saudade. É um pretexto para uma sincera homenagem a Syd Barrett , ex-integrante do grupo, e uma análise dos motivos que o levaram à loucura. A foto da capa, com o homem queimando, representa uma pessoa sendo consumida e deixando de existir. A foto da contracapa é a foto de uma pessoa que não existe mais. Na foto do encarte a pessoa que mergulha na água não faz a água respingar, logo não existe. Todas as fotos remetem a uma "falsa presença".Daí se tira que o Floyd não é apenas musica. É arte! Presente em suas composições, arranjos, letras e até nas capas e encartes dos álbuns.
Porém, foi no disco "The Wall", gravado em 1979, que Roger Waters exorcizou todos os seus demônios em faixas que remetem à sua infância e todas as paranóias que a sociedade incutiu em sua mente. A faixa de maior sucesso, “Another brick in the wall”, que ganhou até videoclipe na época, é um clássico a ser analisado profundamente. Waters foi fantástico em trazer à tona a visão de uma sociedade alienada, em que nós, como membros dela, nos comportamos apenas como “um tijolo no muro”, como o título da música sugere. Somos manipulados à todo instante e nem percebermos ou sequer contestamos. E Waters vai tentar dizer com sua música que isso se inicia na vida familiar, e, principalmente, na escola.
“Another brick in the wall” tentou dizer é que a escola é uma máquina de fazer chouriços indiferenciados, de produzir autômatos, e que os professores são os instrumentos do Estado opressor que quer esvaziar a alma e o cérebro das criancinhas. Parece exagero, mas é a pura realidade. Acontece que, atualmente, os próprios professores foram as criancinhas alienadas do passado, e muitos não têm consciência que estão contribuindo apenas para criar robôs pra sociedade. Coitados dos professores, são apenas mais tijolos no muro. E que muro consistente e indestrutível é a dominação.
O fato é que fomos criados para sermos acríticos. Para reproduzirmos pensamentos e idéias já existentes sem questionarmos sobre elas. Nos tempos que correm, a escola passou a ser vista como o espaço onde se devem eliminar todas as diferenças que existem na sociedade, onde todos devem ser iguais, mesmo quando se lhes reconhece o direito à diferença, e , se possível ,acríticos, mesmo se lhes reconhece o interesse em serem autônomos e reflexivos. E aqui falo da igualdade de pensamentos, de anseios, de caminhos a seguir e não pela igualdade de direitos e oportunidades, que, obviamente, deve existir. Passamos toda uma infância na escola, para que? Para nos tornamos seres ininteligíveis e conhecedores de um conhecimento comum a ser reproduzido numa prova de vestibular?