sexta-feira, 30 de março de 2007

Apenas Tijolos no Muro...











The Wall (1979) Wish you were here (1975)

“Não precisamos de nenhuma educação/Não precisamos de nenhum controle de pensamento/De nenhum sarcasmo sombrio na sala de aula/Professor, deixe as crianças em paz/Ei, professor! Deixe as crianças em paz!/Ao todo, isto é apenas mais um tijolo no muro/Ao todo, você é apuras mais um tijolo no muro”
(Pink Floyd,Another Brick in the all)

Pra início de conversa, cumpre delinear a emoção de escrever algo sobre uma das maiores bandas de todos os tempos. Além de instrumentalmente perfeito, o Pink Floyd sempre foi uma banda de letras impecáveis. Enquanto o rock tradicional falava de sexo, drogas e problemas pessoais, o Floyd foi além...Falou disso também, é claro, mas se ateve mais aos problemas existenciais do mundo, da vida...e de forma brilhante!

Com essa preocupação existencial, letras filosofais e por conter a sonoridade do universo (da música erudita à folclórica, passando pelo jazz e, evidentemente, pelo próprio rock )a banda foi tida como uma das mais “cults” da história da música.

Em 1979, o Floyd já era uma banda consagrada. “The dark side of the moon”, “Animals” e “Wish you were here” já eram clássicos absolutos da música. O álbum “Wish you were here”, de 1975 é um aprofundamento dos temas do clássico-mor “dark side”. O tema do disco é ausência e saudade. É um pretexto para uma sincera homenagem a Syd Barrett , ex-integrante do grupo, e uma análise dos motivos que o levaram à loucura. A foto da capa, com o homem queimando, representa uma pessoa sendo consumida e deixando de existir. A foto da contracapa é a foto de uma pessoa que não existe mais. Na foto do encarte a pessoa que mergulha na água não faz a água respingar, logo não existe. Todas as fotos remetem a uma "falsa presença".Daí se tira que o Floyd não é apenas musica. É arte! Presente em suas composições, arranjos, letras e até nas capas e encartes dos álbuns.

Porém, foi no disco "The Wall", gravado em 1979, que Roger Waters exorcizou todos os seus demônios em faixas que remetem à sua infância e todas as paranóias que a sociedade incutiu em sua mente. A faixa de maior sucesso, “Another brick in the wall”, que ganhou até videoclipe na época, é um clássico a ser analisado profundamente. Waters foi fantástico em trazer à tona a visão de uma sociedade alienada, em que nós, como membros dela, nos comportamos apenas como “um tijolo no muro”, como o título da música sugere. Somos manipulados à todo instante e nem percebermos ou sequer contestamos. E Waters vai tentar dizer com sua música que isso se inicia na vida familiar, e, principalmente, na escola.

“Another brick in the wall” tentou dizer é que a escola é uma máquina de fazer chouriços indiferenciados, de produzir autômatos, e que os professores são os instrumentos do Estado opressor que quer esvaziar a alma e o cérebro das criancinhas. Parece exagero, mas é a pura realidade. Acontece que, atualmente, os próprios professores foram as criancinhas alienadas do passado, e muitos não têm consciência que estão contribuindo apenas para criar robôs pra sociedade. Coitados dos professores, são apenas mais tijolos no muro. E que muro consistente e indestrutível é a dominação.

O fato é que fomos criados para sermos acríticos. Para reproduzirmos pensamentos e idéias já existentes sem questionarmos sobre elas. Nos tempos que correm, a escola passou a ser vista como o espaço onde se devem eliminar todas as diferenças que existem na sociedade, onde todos devem ser iguais, mesmo quando se lhes reconhece o direito à diferença, e , se possível ,acríticos, mesmo se lhes reconhece o interesse em serem autônomos e reflexivos. E aqui falo da igualdade de pensamentos, de anseios, de caminhos a seguir e não pela igualdade de direitos e oportunidades, que, obviamente, deve existir. Passamos toda uma infância na escola, para que? Para nos tornamos seres ininteligíveis e conhecedores de um conhecimento comum a ser reproduzido numa prova de vestibular?
Em todos os meus anos de estudante,só a pouco tempo fui perceber que a idéia central é de todos batermos a bolinha bem baixinho, curvarmos a cabeça à entrada do portão da Escola, trabalharmos todos (alunos e docentes) como autômatos de acordo com as diretrizes dos grandes sabedores e sairmos ao fim do dia com a alma progressivamente mais polida e extirpada de impurezas. E no que isso se resume: Somos apenas tijolos no muro!

4 comentários:

Joana disse...

rpz! como é bom trabalhar com pessoas eficientes...rsrrs
estou em dívida, ne??? tava sem net, nos meus últimos dias no trabalho e na correria da facul...
tow voltando... =]
valeu por segurar as pontas...

4rthur disse...

O sociólogo Pierre Bourdieu, que versou sobre uma espécie de "sociologia do gosto", revela o grande poder que a escola tem de nos dizer como devemos agir e quais são as coisas que devemos considerar dignas de serem admiradas. Em A Economia das Trocas Simbólicas, ele afirma que

“Ao designar e ao consagrar certos objetos como dignos de serem admirados e degustados, algumas instâncias como a família e a escola são investidas do poder delegado de impor um arbitrário cultural, isto é, no caso particular em discussão, o arbitrário das admirações, e por esta via, estão em condições de impor uma aprendizagem ao fim da qual tais obras poderão surgir como intrinsecamente, ou melhor, como naturalmente dignas de serem admiradas ou degustadas”.

Como se vê, a educação também pode ser utilizada como uma programação arbitrária de mentes.

Anônimo disse...

Gostei muito do seu texto Di!!
Tb enxergo o Pink Floyd como uma banda inquieta e questionadora.
Foi a musicalização de questões levantadas por sociólogos, antropólogos, pedagogos...
É Foucault para se ouvir!!
Nati

Anônimo disse...

Excelente...Pink Floyd é questionamento. É remover as pedras do caminho.É trocar o "tu deves" pelo "eu quero"!!
É Nietzsche, Foulcalt e Gramsci para os ouvidos...